segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Entre aspas

"Ao sair do cinema, lembrei da descrição que o jornalista Ruy Castro fez certa vez de uma socialite que, depois de ter agitado todas, se casou e teve três filhos: 'Se ela se distraísse, acabaria sendo feliz pra sempre'.

Tem muita gente que se distrai e é feliz para sempre, sem conhecer as delícias de ser feliz por uns meses, depois infeliz por uns dias, felicíssima por uns instantes, em outros instantes achar que ficou maluca, então ser feliz de novo em fevereiro e março, e em abril questionar tudo o que fez, aí em agosto ser feliz porque uma ousadia deu certo, e assim sentir-se realmente viva porque cada dia passa a ser um único dia, e não mais um dia. (...)

Felicidade pode ser qualquer coisa, menos acomodação. Acomodar-se é fazer uma viagem no piloto automático. Muito seguro, mas que tédio. É preciso um pouco de turbulência para a gente acordar e sentir alguma coisa, mesmo que seja medo."

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Aos desconhecidos: os nomes

O que quer que deixe o seu corpo entre sons e movimentos. Feições que lhe passam pelo rosto, mesmo que durante frações de segundos. Um tom de voz que se pronuncia maior que as próprias palavras. O ritmo de todas as suas ondas.

Uma constante entre diversas ações. O inesperado diante do familiar. Emoções que te arrastam aos lugares mais improváveis. Descobertas silenciosas que ocorrem entre outros silêncios. Entre os silêncios dos outros.

Seus sons favoritos. Os cheiros inesquecíveis. As cores das diversas saudades. Os ecos das lembranças cheirosas, daquelas caixas destampadas por acidente. As fotos dos momentos que ficaram. As fantasias psicodélicas de tudo que se espera.

"Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

Deixemos os nomes para os outros, para os desconhecidos. Entre nós, fiquemos com o inominável, com a carinhosa fluidez, com a confortadora falta de nomes.

domingo, 2 de agosto de 2009

"Marqueee o tempooooo"

Por hora, não me interessa se nossas datas festivas são apenas desculpas de uma sociedade consumista. Não me importa também que a quem se dirige essa mensagem nunca tenha lido meu blog. Pois não me faltam motivos para dedicar um andar dessa torre a pessoa que tantos desses tijolos fabricou.

Filho de peixe nem sempre peixinho é, mas em mim, se acham grudadas as barbatanas e muitas de suas escamas. E que escamas esquisitas muitas vezes eu acho por aqui.

Como a maioria dos pais da época, ele usava bigode. Mas foi um dos poucos que, quando a moda (!) passou, esperou pacientemente até que eu tivesse idade suficiente para entender que meu pai não era um bigode, e sim a pessoa por trás dele, para modernizar o visual.

Foi graças a ele que, aos treze anos, eu me tornei a única menina da turma a cantar de cor todos os maiores sucessos do Fagner. Hoje, ainda me sobrou toda "Borbulhas de amor" e os melhores trechos de "Espumas ao vento", além do sotaque, é claro.

Não entendo porque até hoje ele se assusta quando começo a cantar as vinhetas da narração dos jogos de futebol pelo José Carlos Araújo, Gerson canhotinha de ouro e cia, já que foram ele e aquelas voltas de viagem num domingo à tarde que me fizeram, involutariamente, gravar essas músicas.

Minha paixão pelo cinema vem da mania dele de assistir QUALQUER filme. Mesmo aquele, japonês, da década de 80, que ele já pegou pela metade! Ele precisa assistir até o final, para muitas vezes concluir que o filme é uma droga. E toda vez que ensaio me irritar com essa mania, lembro que ele é o único que atura meus filmes, que para os outros, são igualmente chatos.

Foi dele que herdei as contas, o raciocínio lógico, e daqui a seis meses, me tornarei a engenheira que acredito que ele gostaria de ter sido.

Muitos dos meus tijolos não foram feitos por ele. Mas não consigo reconhecer um andar sequer sem um pedaço do seu bigode, do seu Fagner e do seu amor.

Feliz dia! Dos pais, e todos os demais.

domingo, 12 de julho de 2009

Que me venha a coragem

Não é a primeira vez que eu sento em frente a essa torre desde o último post. Podia dar a desculpa da falta de tempo, se é que eu preciso de desculpas pra não escrever, mas não foi bem por isso que não estive por aqui.

Sentei pelo menos mais uma vez pra escrever, extasiada por um final de semana incrível que tive, onde vi depoimentos crus de pessoas que achava que conhecia. Mas a gente não conhece ninguém até vê-la totalmente desarmada, falando coisas que aparentemente não fazem nenhum sentido. Até vê-la pura, livre de ideias alheias.

Escrevi vários textos e trechos de textos e não tive coragem de postar nenhum. De que adianta um texto se você reescreve cada palavra cinco vezes? Se você começa a se questionar o que os outros irão achar dele?

Tentei ser sincera nos últimos textos e percebi como soam falsos hoje. Ai, falsos não... palavra pesada demais, não define. Como soam calculados hoje. Não adianta... todos os adjetivos que hoje aplico a eles possuem uma carga negativa gigante, esmagadora.

Sempre admirei esse puro-cru, esse ponto onde a mente processa e a boca não filtra, não tenta reorganizar. Acho que é um daqueles casos onde você admira o que mais lhe falta. Não sou falsa, mas não posso me atrever a dizer que sou sincera, pelo menos não do jeito que eu defino a sinceridade.

A gente só conhece alguém quando ela está desarmada, e meu arsenal tem estado carregado.

Quando comecei a torre, achei que conseguiria aqui atingir essa sinceridade, e foi só descobrir que gente conhecida, amiga, lia a torre pra eu me rearmar completamente... Cansei.

Que venham textos crus, cheios de mãos abanando, sem armas nem flores. Que venha a sinceridade dos verdadeiros conhecidos.

Que me venha a coragem

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Páscoa, Assaltos e Rotinas

Começo o texto com apenas o título pronto, o que é bem incomum. Normalmente ele é o último a ser cuspido. Mas uma série de eventos e pensamentos estão me fazendo passar por aqui, nem que seja só pelo título.

Primeiro as rotinas. Passo rapidamente por diversas delas. Gosto de criar rotinas só pra depois abandoná-las e ter a sensação de algo diferente de novo. Crio rotinas de músicas, de hábitos alimentares, de rituais antes de dormir, de metodologias de estudo, de programas de TV. Mas logo tranco essas rotinas em caixas que me trazem as suas próprias sensações que, por algum motivo, adquirem cheiros.

Simplesmente abandono essas caixas, ficam por aí. E como tudo o que fica no meio do caminho, essas caixas são destampadas pelos esbarrões de uma desastrada como eu. Descubro que o tempo só realçou os cheiros. Então pronto, minhas rotinas se tornam blocos cheirosos que serão sempre muito familiares para mim.

Agora a Páscoa. Assim como todas as outras festividades, essa também se tornou um bloco. O bloco do Natal me apresenta primos e tios reunidos, pessoas dormindo embaixo da mesa e um video-game de presente de amigo oculto de 10 reais... cheiro de fita do Mario Kart. Com o dia das mães vem os cafés da manhã, preparados pela minha irmã, comidos muito mais por mim do que pela minha mãe... cheiro de batom, o presente oficial de anos seguidos.

O bloco da Páscoa tinha cheiro de santa ceia mas vinha embrulhado em papel higiênico, usado como cartão pelo meu primo num amigo secreto de chocolate. Vinha, não vem mais.

Meu bloco da Páscoa de 2008: Lagoa, amiga, prima, dois caras armados e logo uma bolsa vazia.

Meu bloco da Páscoa de 2009: Ipanema, amigos, dois caras armados e logo sem bolsa e sem carro.

Então eu chego nos assaltos. Se logo após um assalto, eu choro de nervoso pelo perigo que eu corri e de raiva por perceber que volto com as mãos vazias pra casa, agora eu choro de puro ódio. Por perceber que situações como essas não me fazem apenas perder um celular, um perfume ou um óculos, mas me fazem perder os cheiros dos meus blocos!

Se na hora eu quero gritar como uma criança: "Larga que isso não é seu!", agora eu quero perguntar pra esses projetos mal sucedidos de seres humanos se valeu a pena. Se valeu a pena ameaçar a minha vida, tornar em rotina e consequentemente apodrecer o meu bloco de páscoa, por um carro que foi abandonado logo em seguida, por cartões e celulares bloqueados, pelos míseros trocados que vão arranjar com as coisas que arrancaram da gente!

Se falamos que eles não têm direito de fazer isso, que é um absurdo, que trabalhamos a vida inteira pra alguém chegar e arrancar de você, me desculpe, mas não é com isso que estou preocupada. Estou preocupada porque estamos chegando num ponto onde partes da nossa vida estão apodrecendo por isso, lugares estão deixando de ser frequentados, lembranças estão sendo pixadas por esses eventos que bastam acontecer uma vez pra se tornarem rotina.

Não quero viver desviando de blocos podres, a não ser que eles sejam realmente meus! Porque eu também apodreço meus blocos, mas como eu disse: EU apodreço MEUS blocos! Não preciso de almas podres infeccionando o meu ambiente.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

As antigas


"I'm not saying I don't cry but in between I laugh. I look forward to a good crying. It makes me feel pretty damn good."

Às vezes elas vêm como enxurradas. Enxurradas a princípio educadas, pedem permissão para sair; logo se tornam abusadas, por te tomarem todo o controle uma vez postas em liberdade; mas finalmente, são agradecidas, proporcionando o alívio que se segue à sua dramática saída.

Pela grande maioria, e inclusive por mim, são almejadas. Quem necessita delas sabe que não seria sensato reprimí-las.

Mas particularmente, acredito que existem mais significativas do que estas...

As antigas. Eu as conheço melhor e elas a mim. E não há ninguém que possa definir o que faz dessas as antigas. Suas idades variam de acordo com a rapidez com que me percorrem por dentro, são antigas porque são familiares, não me espanto com sua saída. Aliás, pouco acontece ao redor durante seu escape.

Saem calmamente, não têm pressa de chegar a lugar algum, sabem muito bem o poder que apenas uma dessas tem, a força com que podem me quebrar. Por isso, vêm em pouca quantidade, são caridosas. Vão carinhosamente contornando os meus contornos. Meio que dizendo: "não chore...", meio que desistindo de sair.

Se não as conhecesse tão bem, diria que são debochadas, mas não são. Muito mais parecidas comigo do que alguém possa imaginar, são tão finas que a sua transparência se torna evidente, tanto quanto a cor que as colore: a minha.

São mais reais do que as confusas enxurradas, sei muito bem porque elas estão lá e por isso são muito mais raras. Só necessito delas quando finalmente tudo faz sentido. Na verdade, não são elas que almejo e sim sua força, sua capacidade de abalar e, muito mais, de desconcertar.

Com toda essa força, são tímidas; com toda essa realidade, são totalmente desconhecidas, essas quietas e pesadas lágrimas.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Passageiros

Era somente mais uma de minhas viagens. Longas viagens... mas daquelas que são longas porque são diárias, porque me deixam irritada por não conseguir ler no ônibus, porque me fazem perder tanto tempo.

Mas hoje, agradeci por não poder ler. Quantas são as vezes em que fico apenas olhando pro nada, pensando no nada, ouvindo música, ou simplesmente, ouvindo nada. Só que hoje, agradeci. Foi diferente.

Não estranho o silêncio das pessoas no ônibus. A não ser quando o dia está muito quente. Gosto dos dias quentes, mas não dos surdos e esses surdos sempre são quentes. Mas hoje não era um dia desses. Temperatura até que agradável e o silêncio do ônibus.

Mas entrou um velho. Prestei muita atenção nele, até mesmo sem querer. Ele estava me incomodando e eu não sabia porquê. Tentei compará-lo com os outros passageiros e não enxerguei nenhuma outra diferença além do incômodo.

Era o seu silêncio. Estranho. Todas as outras pessoas do ônibus estavam em silêncio, não haviam conhecidos viajando juntos. Somente pessoas sonolentas, nem sequer se balançavam ao som das músicas de seus fones. E aquele senhor, quieto.

Era isso, não estava em silêncio, estava quieto. E eu inquieta. Por algum motivo, queria que ele falasse, se explicasse pra mim. Comecei a pensar que talvez ele, ao contrário dos outros passageiros, não estivesse nem conversando consigo mesmo, seus olhos não pareciam distraídos, ou entretidos com seus próprios pensamentos.

O que faz uma pessoa ficar quieta, totalmente quieta? E essa era a minha inquietação. Talvez seus dedos tortos pudessem me responder... talvez sua calça suja de trabalhador... mas que tipo de trabalhador sujo carrega apenas uma pochete murcha para o trabalho? Ali não caberia nem uma chave de fenda, talvez somente alguns pregos. Mas como teria feito para pregá-los, ou arrancá-los?

Me distraí nos meus pensamentos, nas minhas perguntas sobre o que aquele velho poderia me dizer. Me distraí nas perguntas que o resto dos distraídos passageiros não estavam fazendo.

Mas não importa... em meio às inúmeras distrações, fui apenas mais uma passageira, que se perdeu sem respostas, daquele velho, no meio de mais uma longa e diária viagem.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Entre negritos e sublinhados

"Diga uma coisa um número suficiente de vezes, e você nunca mais a esquece."

Todo mundo tem uma coletânea de momentos importantes. A maioria desses momentos, não vivenciamos sozinhos, tem sempre um punhado de gente que faz com tudo aconteça. Agora... já passou pela situação de ser a única pessoa a se lembrar de um momento como esse? Precisamos de inúmeras pessoas pra armar o circo e no final de tudo, só você levou a foto do espetáculo armado pra casa?

Eu costumava ficar chateada com situações como essa. 'Como assim você não se lembra disso?' Mas descobri que esses são apenas momentos que eu sublinhei no meu livro. Li e reli essas passagens diversas vezes, e portanto, nunca mais as esqueci. E, sorte a minha, eu sublinho o que eu quiser no meu livro.

Mas existem também aquelas passagens que não fomos nós que escolhemos mas que fazem parte do nosso livro, fazem de nós o que somos. E não estou falando de livre abítrio, estou falando de fatos que fogem do nosso controle e que não conseguimos prever, que batem na gente sem nem sentirmos um ventinho antes. Esses são os negritos.

Como livros de segunda mão, que já vêm sublinhados, você não consegue não prestar atenção neles. Às vezes, você não quer nem reler essas partes, mas elas são tão fortes que fica difícil não ser atraído por elas. O alívio vem que se sublinha um livro de qualquer cor e o negrito ainda está vestido de preto e branco, esperando pra ser bordado com a cor que você escolher.

São duas idéias aqui: os negritos e os sublinhados. Dê o mesmo livro pra diversas pessoas lerem. Todas se lembrarão dos mesmos negritos, que já vieram impressos nas folhas, mas cada uma vai lembrar do seu próprio sublinhado.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Perdida

Esse post está saindo correndo, e é sobre a corrida mesmo. Acho que é só mesmo a necessidade de deixar vazar um pouco de tudo.

Sabe quando de repente as coisas mudam, sua rotina muda, suas idéias mudam, só que é tudo tão rápido que você só pode se permitir absorver tudo sem deixar vazar nada? Ao contrário do que possa parecer, estou adorando tudo isso.

É gostoso de vez em quando experimentar e curtir um pouco essa correria meio confusa. Então eu vou inchando... uma hora vai vazar, e a enxurrada vai ser forte!

Estou indo totalmente contra as minhas "regras" de post, mas o título do meu blog foi escolhido justamente pra esses momentos, quando tudo muda e você não tem muito tempo pra mudar os estatutos. Tudo aí em cima foi só uma introdução corrida pro que está abaixo. Não gosto muito de copiar coisas aqui não, mas essa letra faz parte de uma redescoberta que estou precisando ouvir...

Até a minha próxima enxurrada!
Lost
Just because I'm losing
Doesn't mean I'm lost
Doesn't mean I'll stop
Doesn't mean I would cross
Just because I'm hurting
Doesn't mean I'm hurt
Doesn't mean I didn't get
What I deserved
No better and no worse
I just got lost
Every river that I tried to cross
Every door I ever tried was locked
And I'm... Just waiting 'til the shine wears off
You might be a big fish
In a little pond
Doesn't mean you've won
'Cause along may come
A bigger one
And you'll be lost
Every river that you tried to cross
Every gun you ever held went off
And I'm... Just waiting until the firing stopped
And I'm... Just waiting 'til the shine wears off

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Chatos somos...

Você gosta de coisas chatas.

É fato. Acontece com todo mundo e com certeza, acontece também com você.

Vá fundo. Vasculhe bem, elas estão lá. Agora se concentre nelas e esqueça aquela desculpa esfarrapada de que os outros não entendem o seu gosto. No fundo, admita que você também acha aquilo tudo uma chatice!

Você vai conseguir descobrir que é possível gostar de coisas chatas. É somente das insuportáveis que você não consegue gostar, mas não estou falando dessas coisas. Estou falando de coisas chatas somente.

Sejam músicas, livros, filmes, lugares, atividades e, principalmente, manias! E esse último é o melhor exemplo. Todas as nossas manias são chatas, e conseguimos, de uma maneira bem esquisita e distorcida, amar essas nossas chatices.

Mas quero chegar nas pessoas. Você também gosta de pessoas chatas. É mais difícil gostar delas, porque as pessoas facilmente se perdem em seus limites e cruzam para o lado do insuportável num instante. Mas fiquemos por enquanto com as pessoas chatas.

Somos capazes de nos encantar com elas, de nos libertarmos e simplesmente compartilharmos de suas chatices. Podemos sim, ser cativados por esses perturbadores. Podemos até mesmo atingir o nosso próprio patamar tolerável de chatice.

Você é chato pra alguém. E se até suas manias têm um lugar no mundo, sua chatice será de alguma forma, bem vinda!