terça-feira, 25 de agosto de 2009

Aos desconhecidos: os nomes

O que quer que deixe o seu corpo entre sons e movimentos. Feições que lhe passam pelo rosto, mesmo que durante frações de segundos. Um tom de voz que se pronuncia maior que as próprias palavras. O ritmo de todas as suas ondas.

Uma constante entre diversas ações. O inesperado diante do familiar. Emoções que te arrastam aos lugares mais improváveis. Descobertas silenciosas que ocorrem entre outros silêncios. Entre os silêncios dos outros.

Seus sons favoritos. Os cheiros inesquecíveis. As cores das diversas saudades. Os ecos das lembranças cheirosas, daquelas caixas destampadas por acidente. As fotos dos momentos que ficaram. As fantasias psicodélicas de tudo que se espera.

"Uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

Deixemos os nomes para os outros, para os desconhecidos. Entre nós, fiquemos com o inominável, com a carinhosa fluidez, com a confortadora falta de nomes.

domingo, 2 de agosto de 2009

"Marqueee o tempooooo"

Por hora, não me interessa se nossas datas festivas são apenas desculpas de uma sociedade consumista. Não me importa também que a quem se dirige essa mensagem nunca tenha lido meu blog. Pois não me faltam motivos para dedicar um andar dessa torre a pessoa que tantos desses tijolos fabricou.

Filho de peixe nem sempre peixinho é, mas em mim, se acham grudadas as barbatanas e muitas de suas escamas. E que escamas esquisitas muitas vezes eu acho por aqui.

Como a maioria dos pais da época, ele usava bigode. Mas foi um dos poucos que, quando a moda (!) passou, esperou pacientemente até que eu tivesse idade suficiente para entender que meu pai não era um bigode, e sim a pessoa por trás dele, para modernizar o visual.

Foi graças a ele que, aos treze anos, eu me tornei a única menina da turma a cantar de cor todos os maiores sucessos do Fagner. Hoje, ainda me sobrou toda "Borbulhas de amor" e os melhores trechos de "Espumas ao vento", além do sotaque, é claro.

Não entendo porque até hoje ele se assusta quando começo a cantar as vinhetas da narração dos jogos de futebol pelo José Carlos Araújo, Gerson canhotinha de ouro e cia, já que foram ele e aquelas voltas de viagem num domingo à tarde que me fizeram, involutariamente, gravar essas músicas.

Minha paixão pelo cinema vem da mania dele de assistir QUALQUER filme. Mesmo aquele, japonês, da década de 80, que ele já pegou pela metade! Ele precisa assistir até o final, para muitas vezes concluir que o filme é uma droga. E toda vez que ensaio me irritar com essa mania, lembro que ele é o único que atura meus filmes, que para os outros, são igualmente chatos.

Foi dele que herdei as contas, o raciocínio lógico, e daqui a seis meses, me tornarei a engenheira que acredito que ele gostaria de ter sido.

Muitos dos meus tijolos não foram feitos por ele. Mas não consigo reconhecer um andar sequer sem um pedaço do seu bigode, do seu Fagner e do seu amor.

Feliz dia! Dos pais, e todos os demais.