quinta-feira, 9 de abril de 2009

Páscoa, Assaltos e Rotinas

Começo o texto com apenas o título pronto, o que é bem incomum. Normalmente ele é o último a ser cuspido. Mas uma série de eventos e pensamentos estão me fazendo passar por aqui, nem que seja só pelo título.

Primeiro as rotinas. Passo rapidamente por diversas delas. Gosto de criar rotinas só pra depois abandoná-las e ter a sensação de algo diferente de novo. Crio rotinas de músicas, de hábitos alimentares, de rituais antes de dormir, de metodologias de estudo, de programas de TV. Mas logo tranco essas rotinas em caixas que me trazem as suas próprias sensações que, por algum motivo, adquirem cheiros.

Simplesmente abandono essas caixas, ficam por aí. E como tudo o que fica no meio do caminho, essas caixas são destampadas pelos esbarrões de uma desastrada como eu. Descubro que o tempo só realçou os cheiros. Então pronto, minhas rotinas se tornam blocos cheirosos que serão sempre muito familiares para mim.

Agora a Páscoa. Assim como todas as outras festividades, essa também se tornou um bloco. O bloco do Natal me apresenta primos e tios reunidos, pessoas dormindo embaixo da mesa e um video-game de presente de amigo oculto de 10 reais... cheiro de fita do Mario Kart. Com o dia das mães vem os cafés da manhã, preparados pela minha irmã, comidos muito mais por mim do que pela minha mãe... cheiro de batom, o presente oficial de anos seguidos.

O bloco da Páscoa tinha cheiro de santa ceia mas vinha embrulhado em papel higiênico, usado como cartão pelo meu primo num amigo secreto de chocolate. Vinha, não vem mais.

Meu bloco da Páscoa de 2008: Lagoa, amiga, prima, dois caras armados e logo uma bolsa vazia.

Meu bloco da Páscoa de 2009: Ipanema, amigos, dois caras armados e logo sem bolsa e sem carro.

Então eu chego nos assaltos. Se logo após um assalto, eu choro de nervoso pelo perigo que eu corri e de raiva por perceber que volto com as mãos vazias pra casa, agora eu choro de puro ódio. Por perceber que situações como essas não me fazem apenas perder um celular, um perfume ou um óculos, mas me fazem perder os cheiros dos meus blocos!

Se na hora eu quero gritar como uma criança: "Larga que isso não é seu!", agora eu quero perguntar pra esses projetos mal sucedidos de seres humanos se valeu a pena. Se valeu a pena ameaçar a minha vida, tornar em rotina e consequentemente apodrecer o meu bloco de páscoa, por um carro que foi abandonado logo em seguida, por cartões e celulares bloqueados, pelos míseros trocados que vão arranjar com as coisas que arrancaram da gente!

Se falamos que eles não têm direito de fazer isso, que é um absurdo, que trabalhamos a vida inteira pra alguém chegar e arrancar de você, me desculpe, mas não é com isso que estou preocupada. Estou preocupada porque estamos chegando num ponto onde partes da nossa vida estão apodrecendo por isso, lugares estão deixando de ser frequentados, lembranças estão sendo pixadas por esses eventos que bastam acontecer uma vez pra se tornarem rotina.

Não quero viver desviando de blocos podres, a não ser que eles sejam realmente meus! Porque eu também apodreço meus blocos, mas como eu disse: EU apodreço MEUS blocos! Não preciso de almas podres infeccionando o meu ambiente.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

As antigas


"I'm not saying I don't cry but in between I laugh. I look forward to a good crying. It makes me feel pretty damn good."

Às vezes elas vêm como enxurradas. Enxurradas a princípio educadas, pedem permissão para sair; logo se tornam abusadas, por te tomarem todo o controle uma vez postas em liberdade; mas finalmente, são agradecidas, proporcionando o alívio que se segue à sua dramática saída.

Pela grande maioria, e inclusive por mim, são almejadas. Quem necessita delas sabe que não seria sensato reprimí-las.

Mas particularmente, acredito que existem mais significativas do que estas...

As antigas. Eu as conheço melhor e elas a mim. E não há ninguém que possa definir o que faz dessas as antigas. Suas idades variam de acordo com a rapidez com que me percorrem por dentro, são antigas porque são familiares, não me espanto com sua saída. Aliás, pouco acontece ao redor durante seu escape.

Saem calmamente, não têm pressa de chegar a lugar algum, sabem muito bem o poder que apenas uma dessas tem, a força com que podem me quebrar. Por isso, vêm em pouca quantidade, são caridosas. Vão carinhosamente contornando os meus contornos. Meio que dizendo: "não chore...", meio que desistindo de sair.

Se não as conhecesse tão bem, diria que são debochadas, mas não são. Muito mais parecidas comigo do que alguém possa imaginar, são tão finas que a sua transparência se torna evidente, tanto quanto a cor que as colore: a minha.

São mais reais do que as confusas enxurradas, sei muito bem porque elas estão lá e por isso são muito mais raras. Só necessito delas quando finalmente tudo faz sentido. Na verdade, não são elas que almejo e sim sua força, sua capacidade de abalar e, muito mais, de desconcertar.

Com toda essa força, são tímidas; com toda essa realidade, são totalmente desconhecidas, essas quietas e pesadas lágrimas.