segunda-feira, 23 de março de 2009

Passageiros

Era somente mais uma de minhas viagens. Longas viagens... mas daquelas que são longas porque são diárias, porque me deixam irritada por não conseguir ler no ônibus, porque me fazem perder tanto tempo.

Mas hoje, agradeci por não poder ler. Quantas são as vezes em que fico apenas olhando pro nada, pensando no nada, ouvindo música, ou simplesmente, ouvindo nada. Só que hoje, agradeci. Foi diferente.

Não estranho o silêncio das pessoas no ônibus. A não ser quando o dia está muito quente. Gosto dos dias quentes, mas não dos surdos e esses surdos sempre são quentes. Mas hoje não era um dia desses. Temperatura até que agradável e o silêncio do ônibus.

Mas entrou um velho. Prestei muita atenção nele, até mesmo sem querer. Ele estava me incomodando e eu não sabia porquê. Tentei compará-lo com os outros passageiros e não enxerguei nenhuma outra diferença além do incômodo.

Era o seu silêncio. Estranho. Todas as outras pessoas do ônibus estavam em silêncio, não haviam conhecidos viajando juntos. Somente pessoas sonolentas, nem sequer se balançavam ao som das músicas de seus fones. E aquele senhor, quieto.

Era isso, não estava em silêncio, estava quieto. E eu inquieta. Por algum motivo, queria que ele falasse, se explicasse pra mim. Comecei a pensar que talvez ele, ao contrário dos outros passageiros, não estivesse nem conversando consigo mesmo, seus olhos não pareciam distraídos, ou entretidos com seus próprios pensamentos.

O que faz uma pessoa ficar quieta, totalmente quieta? E essa era a minha inquietação. Talvez seus dedos tortos pudessem me responder... talvez sua calça suja de trabalhador... mas que tipo de trabalhador sujo carrega apenas uma pochete murcha para o trabalho? Ali não caberia nem uma chave de fenda, talvez somente alguns pregos. Mas como teria feito para pregá-los, ou arrancá-los?

Me distraí nos meus pensamentos, nas minhas perguntas sobre o que aquele velho poderia me dizer. Me distraí nas perguntas que o resto dos distraídos passageiros não estavam fazendo.

Mas não importa... em meio às inúmeras distrações, fui apenas mais uma passageira, que se perdeu sem respostas, daquele velho, no meio de mais uma longa e diária viagem.